Fotografar é, para mim, um exercício de escuta. Mesmo quando o outro não diz uma palavra, há sempre algo sendo revelado: na forma como a pessoa respira, na leveza (ou não) do seu olhar, no silêncio entre um clique e outro no quanto a pessoa gosta de ser fotografada ou não.

Mas confesso que, ao fotografar Luiz Felipe Pondé, algo em mim se transformou, afinal antes da nossa sessão eu tive o privilegio de ouvi-lo dissertar sobre assuntos que em minha mente "fechada" era aceitável e na verdade, não deveria ser.

Mais do que uma sessão de retratos, foi uma experiência que me atravessou como fotógrafa e como pessoa. Porque diante de alguém que carrega o peso e a leveza do pensamento, do tempo e das ideias, precisei abrir mão de qualquer “pose” — inclusive a minha.

Estávamos no ambiente dele , sem grandes produções mas com profunda importância. Mas havia ali uma profundidade difícil de explicar. Era como se eu não estivesse apenas clicando, mas sendo desafiada a enxergar além da imagem, além da técnica, além da luz perfeita, afinal na minha mente "fechada", eu seria apenas mais um fotografa que ele teve contato.

E então, depois de tudo, ouvi da filha dele algo que nunca vou esquecer:

“Você fotografou a alma do meu pai.”

Essa frase me atravessou como um raio. Porque traduz exatamente o que venho buscando há anos: retratar o que não se vê. Mostrar a verdade que vive por trás de cada rosto, cada gesto, cada linha de expressão.

Com Pondé, aprendi — ou melhor, confirmei — que fotografar alguém é um ato de respeito e escuta profunda. E que a beleza de um retrato não está só na nitidez, mas na coragem de quem se deixa ver de verdade.

Desde aquele dia, saí diferente. Mais consciente do poder da minha lente. Mais comprometida com o que realmente importa: conexão, verdade e presença.

E é isso que quero oferecer a cada pessoa que passa pelo meu olhar: um retrato que não só represente… mas revele.